EGO NO CENTRO

O INÍCIO INCONSCIENTE
O documentário da BBC “The Century of the Self” descreve as revoluções formadas contra as ideias de Freud sobre o inconsciente - acusadas de serem os instrumentos do mundo da publicidade, propaganda e marketing para fins de manipulação. Porém, o resultado foi oposto: isso deu vida ao sujeito fractal, vulnerável, isolado e ganancioso.
A série descreve como as ideias de Freud foram trazidas aos Estados Unidos pelo seu sobrinho, Edward Bernays (o inventor de Relações Públicas) como técnicas para controlar massas na era da democrática: a teoria do inconsciente trazida para o cerne do mundo da propaganda e do marketing.

NARCISISMO
Nas recentes produções cinematográfica norte-americanas podemos perceber uma tendência introspectiva dos protagonistas: narrativas sobre como o protagonista se torna prisioneiro do próprio mundo mental (memórias, traumas, sonhos, projeções, e afins) e como ele desenvolve o sentido onírico para encontrar o caminho de saída de conspirações e tramas.
O autor Richard Sennet chama esse fenômeno de “ascetismo mundano”, termo proveniente da ética protestante explicada por Weber. Enquanto na ética cristã o ascetismo de um monge é um movimento involuntário voltado para o interior (“um monge que se flagela a si mesmo diante de Deus, na privacidade da sua cela, não pensa na sua aparência diante dos outros” – SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 406.), de outra maneira, na ética protestante há um componente mundano no ascetismo pela necessidade de expressar a Deus e aos outros a sua renúncia e sacrifício, provando a todos merecer as graças divinas. Isso se insere na cultura narcísica atual como um impulso confessional como uma performance do eu interior diante dos outros: “Ou seja, o narcisismo é o princípio psicológico para a forma de comunicação que chamamos de representação da emoção para outrem, ao invés de uma apresentação corporificada da emoção. O narcisismo cria a ilusão de que uma vez que se tenha sentimento ele precisa ser manifestado – porque no final das contas, o ‘interior’ é uma realidade absoluta” (SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 408.).
A imagem aparente narcísica de um ego grandioso cobre um vazio da própria subjetividade que se adapta e reproduz mimeticamente o entorno para sobreviver. Vulnerável, o indivíduo reproduz ideias e sentimentos como fossem originais e verdadeiros, mas não passam de reprodução repetitiva de padrões.

CONTROLE DE MASSAS A PARTIR DO EU
As ideias de Freud são acusadas de serem responsáveis por manipulações dos sentimentos das pessoas e em transformá-las em consumidores ideais. Os filósofos Wilhelm Reich e Hebert Marcuse começaram a estudar teoria do inconsciente, de que havia um “Eu irracional”, oculto, que deveria ser controlado para o bem da sociedade. Os oponentes diziam que Freud estava errado sobre a natureza humana: o eu interior não precisaria ser reprimido e controlado, e sim encorajado a se expressar.

SEGMENTAÇÃO DE MERCADO
A descoberta de um “ego infinito”, que quer desfrutar de diversas identidades e estilos de vida obrigava a produção de produtos customizados, voltados a uma crescente segmentação de mercado.

NECESSIDADE DE EXPRESSÃO
Temos uma irônica jornada de busca de autoconhecimento: quanto mais os psicoterapeutas implantavam técnicas de mapear a vida mental, mais as camadas de defesa do ego eram retiradas, tornando-o vulnerável em níveis de controles sociais e políticos. Chamaram isso de “auto expressividade”.
O narcisismo e a auto expressividade são reações do mal estar do cotidiano de trabalho. A necessidade em confessar-se para outros em redes sociais demonstra esta busca por grupos de apoio, formação de comunidades de autoajuda que, ironicamente, produzem efeito contrário: a repetição fractal de padrões e clichês quando se achava estar expressando uma “verdade” interior.
A cultura crescente do autoconhecimento e auto expressividade dos anos 1970 resultou no impulso narcísico em expressar publicamente seus desejos mais íntimos, pensamentos, incertezas e motivações. Um impulso confessional potencializado na atualidade pelo ciberespaço por meio de redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter.

THEODORE E O EGO
A maneira como Samantha evolui como um sistema inteligente, se moldando a partir das reações e da personalidade de Theodore não faz ele se apaixonar pelo que seria a mulher ideal, mas o faz se apaixonar por si mesmo. O faz se apaixonar pelo seu próprio Eu (self).

CONCLUSÃO DO EGO
Em “O Século do Ego” os espectadores acompanham a trajetória do assalto ideológico ao ego. Sob a promessa de liberdade do indivíduo sobre as restrições sociais por psicoterapeutas e filósofos. As corporações encorajam as pessoas a se sentirem pessoas especiais oferecendo maneiras de expressar a individualidade. Porém, quanto mais o marketing e publicidade encorajam as pessoas, mais o ego se torna fractal: fragmentos de padrões idênticos ao todo.


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