SEMIÓTICA

 Analisar os detalhes do filme não é uma tarefa difícil, pois os detalhes são originais e pontuais -mesmo não sabendo o período em que os personagens estão vivendo. O cenário ultramoderno junto com aparelhos tecnológicos nos passam a ideia de um filme de ficção científica em um futuro possivelmente próximo a nós. Do outro lado, a direção de arte é inteiramente inspirada nos anos 1970, seja o figurino, as cores pastel, o modo como as luzes são inseridas, e afins.
 Este contraste é totalmente visível, e nos trás uma ideia de atemporalidade, não configura a distopia de um mundo desumanizado. Mas nos trás um universo onde cada indivíduo é um átomo isolado, à mercê do isolamento emocional-humano. O filme propõe nos aproximarmos do roteiro muito mais que nos afastar da realidade dos personagens.
 Her compõe com elementos de cena e fotografia a solidão e o estado de espírito dos personagens.
 Podemos exemplificar pelo apartamento e cidade de Theodore, os quais são amplos e “clean”, sem personalidade.
 As cores no filme exercem um papel importante: é possível interpretar Theodore a partir das próprias roupas, suas camisas coloridas, ora vermelho ora amarelo, expressam seus sentimentos para os quais ele não encontra palavras, embora, paradoxalmente, sua profissão tenha como função sugestiva escrever cartas para os outros. Sendo essa, outra característica inerente ao ser humano: sabemos tanto sobre o outro, mas tão pouco sobre nós mesmos.
 A primeira conversa entre Samantha e Theodore, situa-se em uma sala escura onde o fundo está desfocado. O diretor exclui o mundo concreto e o contexto espacial que envolve o protagonista, antecipando a entrada de Samantha. Durante o filme, Spike Jonze explora a profundidade de campo, que por sinal é bem limitada.
 No final do filme, Theodore inicia um relacionamento tradicional, com uma parceira humana. Ciente da necessidade de uma imagem representativa e forte, o diretor escolhe o oposto da antirrepresentação: o signo estereotipado. Spike Jonze compõe um fim cinematográfico que remete a uma imagem arquetípica do amor romântico. Já o final “científico-especulativo” é mais intenso e explora um comportamento impensável para a técnica, ou seja, a sua reversibilidade.
 O mundo de Theodore parece estar prestes a ser construído, anterior à intervenção da tecnologia. Novo em folha, ou novo em pixel.

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